quarta-feira, 21 de setembro de 2011

NOVOS E VELHOS AMIGOS


Os meus últimos meses foram de causar vertigem. Somaram-se os trabalhos em grupo do final de semestre, as leituras que não cessam e a conclusão da pesquisa em campo do nosso projeto de pesquisa. Ainda por cima, sobrevieram fatos imprevisíveis, desde questões familiares até profissionais.
Enfim, não consegui compatibilizar tanta coisa. Fiquei a dever. A pressão vem de todos os lados e, não posso negar, junto vem a vontade de tomar uma decisão para aliviar a carga.
O “stop and go” é muito difícil, porque não fazemos nada como gostaríamos e eu sou meticuloso: gosto de ver o resultado redondo, apreciar o que realizei.
O mestrado, para mim, (será que para todos também?) tem sido um processo de solidão. A minha namorada está a algumas centenas de quilômetros e, na viração de viagens, o tempo que tem ficado para nós é insuficiente. Sozinho, no quarto, lendo, a mente viaja lá pelas bandas do Espírito Santo...
Em meio a trabalhos, preparação de relatórios, prestação de contas, reuniões de apresentação, o sentimento de que não me pertenço mais se assomou muito fortemente. Uma alienação está em curso? Tento tomar as rédeas novamente, o cavalo é bravio, sacolejo, vou meio que no rumo, “condutor conduzido” (gosto demais dessa imagem do Matus), me arranhando pelos arbustos caminho afora.
Os textos trazem um prazer intelectual, alguma fruição. É gostoso esse exercício de concatenar idéias, fazer ilações, analogias – descobrir que a estrada palmilhada pela intuição pode dar, muitas vezes, na mesma fonte onde estão bebendo os teóricos. São trilhas paralelas as da teoria e da prática: se tangenciam e se distanciam. Veredas bem achegadas.
Pelo caminho vamos colhendo frutos. Descortinando paisagens. Encontrando amigos, proseando... com velhos e novos amigos.
O interessante é que, à luz dos textos, olhamos com outro olhar, abrimos mais os olhos. Sentimos cheiros novos. Há mais do que pensávamos. E os movimentos da realidade parecem que vão interagindo. O que algum autor de uma dita corrente escreve acaba se tocando com aquilo que o outro, de uma linha bem diversa, trouxe no embornal.
Nada pode ser olhado somente uma vez e de um só lugar. Do mato que menos esperamos, sai todo tipo de bicho. E as misturas mais inesperadas, orelha de um, focinho do outro, trejeito esquisito o andar que resulta desse hibridismo.
Mas é assim mesmo, o importante é perceber o fixo no mutável e o que permanece na mudança. Captar essências, potências desse movimento cada vez mais global e mais particular.
São essas descobertas que vão ficar na minha memória. É o que costurei com as minhas agulhas improvisadas nessa tessitura intelectual.  
Os novos e velhos amigos – autores e colegas do mestrado – são os companheiros de uma viagem que bem começou. E tome sacolejo! Abraço e beijo a todos. César Luz