“Vide Bula”
Apresentação Farmacêutica
Até aqui, o meu vínculo com a saúde sempre estiveram concentrados no fazer. Nos postos de trabalho que assumi, a curiosidade intelectual predominava como um exercício pragmático, com dia e hora marcada para se materializar em produtos e ações.
E iniciar esse mestrado agora, quase 20 após a minha saída da universidade, é muito fecundo, pois as leituras e as discussões ganham em densidade, uma sinergia com o meu conhecimento empírico (vamos assim chamá-lo, provisoriamente).
Mais me impressiona é questões dessa lida prática aparecem, agora, muito bem alicerçadas. O casamento entre informação, comunicação e saúde é selado à base de muito diálogo com várias áreas das ciências sociais.
E como a minha profissional continua intensa, abre-se um “terceiro olho”, uma práxis que se faz a cada passo.
Informações ao Usuário
Mas tudo isso tem o seu preço.
As viagens sucessivas, as horas de sono perdidas e o “cavalo de pau” que dei na minha rotina me pegaram de jeito. Subiu o nível de estresse, de ansiedade e isso tensiona as relações pessoais.
Agora, é a hora da luta, da persistência, da coragem para vencer...
O que nos revigora é o apoio dos colegas. A turma é muito boa, atenciosa, coesa, divertida.
Espero que a gente continue assim. Claro que haverá percalços, mas este espírito não podemos perder!
Informações Técnicas
Dá para perceber que o meu projeto de pesquisa carrega desafios de monta.
O primeiro deles é a necessidade de distanciamento crítico, uma vez que estou a frente da execução de um programa de trabalho que servirá de matéria-prima para a pesquisa.
Vem depois que pretendo centrar minha atenção na interação dialógica entorno da prescrição de medicamentos e percebo que não há muita referência bibliográfica sobre o tema específico.
Percebo que, diante da imensa floresta que se abre, há enormes clareiras, mas aquelas trilhas que vão me levar à fonte de água pura terei que abrir a golpes de facão.
Indicações e Contra-indicações
Dia desses, num debate em sala de aula, comentei, a respeito do conceito de campo, que somos novos atores adentrando uma estrutura já consolidada. Vivi e vivo isso no meu cotidiano, ao perceber quanta resistência desperta a atuação do profissional de comunicação numa área, até a pouco, tida como exclusividade dos profissionais de saúde.
Assim, esse mestrado é indicado para quem busca ganhar densidade para percorrer as rotas desse campo, um certo tipo desbravador, solitário por vezes, que não pestaneja diante dos desafios.
Mas, cuidado, ele é contra-indicado para aqueles que pensam fazê-lo de uma forma meio asséptica, que creem ser possível passar por ele incólume.
Temos que nos desnudar, mostrar as vísceras, expor as contradições e os limites. É um chamado para um jogo franco, perigosamente aberto.
Modos de usar
Neste tópico, quero falar um pouco sobre as possibilidades que vejo para o meu projeto de pesquisa.
Uma primeira possibilidade é avaliar como se constrói o conhecimento em torno dos medicamentos.
Como que os hábitos de informação dos prescritores interagem com a carga que lhes foi oferecida pelas escolas superiores? De que maneira o ambiente da saúde pública, especificamente, a Estratégia Saúde da Família (ESF), mescla-se com essas vertentes?
As apostas de que o problema central não é a falta de informação confirma-se? Em que medida a ESF está sendo resolutiva em disseminar informações, permitir a participação e a integração das equipes?
Essas são algumas das muitas perguntas que podemos formular.
Posologia
Doses diárias de estudo, dedicação e debate pelo período de dois anos, ininterruptos.
Advertências
Tenho uma pretensão e sei que ela merece ser vigiada, advertida.
É que não desejo desenvolver um projeto “tecnicista”. Tenho aversão aquele conhecimento que se encerra no seu objeto, fugaz, utilitário ao extremo.
É que quero deixar abertas as trilhas no seio da floresta. Alguém mais poderá vir por essas bandas e poderá precisar de um caminho a lhe guiar...
Que o meu trabalho almeje a lua, para chegar ao segundo andar, é o que alguém, já não me lembro quem, ensinara.
Estou ciente dos riscos, pois o tema dos medicamentos é árido, muitas vezes hermético. Vamos adiante, movido pelos desafios que acumulamos.
Interações
Olhando para trás, distingo uma característica marcante em mim: um inquieto, buscador, que cria suas próprias regras. Em desacordo com quase tudo o que me ensinaram que seria a minha vida como profissional de comunicação. Não mais um jornalista, sem ser um publicitário, alguém mais inventivo do que criativo, pois vivo de realizar meus projetos.
Nessa interação com outras áreas, termino por não me afiliar a um campo bem definido. Isso cobra seu preço.
Acredito que a opção pela mestrado na Fiocruz pode me ajudar nessa busca de um respaldo para esse caminhar pelas próprias pernas.
Já que estivera órfão de uns tempos para cá, torno-me senhor de um saber e de um fazer próprios.
Como a velha águia, arranco os bicos e as garras curvas. Dói, sai sangue, renovo-me para prosseguir a jornada*.
(*) O poema “Acaso perdeste” fala um pouco dessa contradição, desse momento de morte e renascimento.
