quarta-feira, 30 de março de 2011

Acaso perdeste


Acaso perdeste ao mar
profundo
Teus sonhos juvenis

E, fixo, no horizonte
Marejado pelo tempo
 [Perdido...

O teu olhar é pura desesperança
De encontrar?

Entranhas expostas
Ensopadas de imensidão
        De tanto sol, de tanto mar

Já não sou, de tanto ser
O que procuro em vão encontrar

Oh, se me deste
Quem sabe, ao menos
Montanha, esquina – algo com que dobrar

Mas, qual !
És puro arremetimento,
E só uma louca vontade de me jogar


Pelas mãos calejadas
Enfunam-se, uma vez mais
Velas da esperança
Vela, velo a procurar

De que continente parti
  - Se continente quero alcançar?

Chamam-me covarde
Que o teu lugar é onde sempre estivera
Pra que navegar – se lado não há, pra que procurar

“Um sem-bússola, sem norte, filósofo do mar”
Que este derrotado não querem em porto algum!
“Vê se de alhures alguém pode viver?”
     [Exemplo de não estar

E lançaste ao mar:
Mapa, bússola, sonho
Agora, sem vergonha,
Navega por navegar!

Vazio de tanta imensidão
Que lugar é este
Que sombra não há 
A água te torce de sede
E não tens a quem gritar!
Cesso o barco, desço a vela
E a vontade que ordena:
Conduzo-me para a morte
               
 Pulo de ponta, sem lembrar, por sofrer

Mergulha, profundo
[a água é nada e nada vais encontrar

“Não mede vontade, sequer respirar”
Das tuas profundezas, se vivo ou morto
Traz-me onda, suja, revolta

Um tesouro, emporcalhado pelo tempo
Sou Eu, Eu mesmo
Alma ... água, nada
Que somente morto se encontra,
Que nas tuas profundezas fui buscar


César Luz, março de 2011


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