quarta-feira, 9 de novembro de 2011

OS PERSONAGENS DA MINHA HISTÓRIA

Hoje, quero contar a história de dois personagens sobre os quais muito falamos e estudamos, mas ainda pouco sabemos sobre eles.
É que sempre os vemos separados, cada qual a buscar em si o que só poderia encontrar no outro. Incompletos, insatisfeitos, ardentes de desejo.
Não sei se já descobriram os nomes, quero aqui apresentar os nossos dois personagens: Senso Comum e Conhecimento Científico.
E ainda existe uma terceira e poderosa pessoa, cujo nome é Metodologia Científica. Essa sim,durona, e sempre a bradar, sussurrar e avisar a ambos: “a sua aproximação é no máximo de alguns poucos metros, vocês não podem se tocar, caso de morte, pega doença, temos que ter muito cuidado!”
Segue a vida. Dona Metodologia dona do pedaço, os dois incompletos de cada vida a cuidar. Senso comum vai ao bosque, come maças, deita-se na terra, dorme com os bichos, pesca, cata, dança na chuva. Oh, que parece quase bicho do mato!
Conhecimento Científico quase não sai de casa. Nas leituras, sempre. Refleti sobre a vida, a morte da bezerra, os conflitos. É mais com ele que Dona Metodologia gosta de conversar. Vivem momentos de êxtase intelectual, pérolas da sanidade humana. Uma belezura que produzem juntos.
Mas conhecimento Científico já está meio de saco-cheio. Quer um pouco de ação, curtir a vida do jeito que der mesmo, sair por aí, por aí mesmo, sem nada para pensar, resolver - ou algum trabalho, artigo ou resenha para entregar. Simplesmente, viver!
Mas, desse relampejo, retorna os olhos para a sua mesa de estudo, onde livros se esparramam, pilhas e pilhas de papéis, cada um com mais ideias e conceitos. Todos se ligam, e várias ligações são possíveis. Cabe a ele pensar, achar as ilações, formular os encontros.
Ih! Quanta coisa, minha mente vai fundir, pensa. Resolve dar um tempo, vou dar uma volta no Bosque da Vida, enquanto Dona Metodologia tira uma soneca, cansada das investidas epistemológicas da noite anterior.
Ah, ver um pouco de natureza, respirar ar puro. “Daqui a pouco volto, tomo um banho e retomo os estudos”, pensou Conhecimento Científico.
Do outro lado do bosque, vinha, todo amarfanhado, Senso Comum, ainda secando da água da lagoa. Com os bolsos cheios de goiabinha verde, seriguela, cajá, fez uma sacola com a camisa, carregou-a com manguita, espada e coquinho, aquela do fiapinho.
De repente, avista ao longe um ser que ainda não conseguira divisar completamente. Parecia ser ele sim: Conhecimento Científico? Sim, o próprio!
E agora, o que fazer? Voltar, buscar outro caminho, ouvir os conselhos de Dona Metodologia. Senso comum sempre foi meio largado mesmo, tá nem aí pra nada. Que se dane. Vou na minha, ver o que vai dar.
Conhecimento Científico não se apercebeu de quem se aproximava. Como sempre, cismava sobre tudo, o olhar perdido, lembrando-se de conceitos, noções, agora, tudo plasmado naquele verde, naquela azul, no cheiro daquela terra.
Um graveto se quebra, alguém pisara bem perto!
“Olá”, disse Senso Comum.
Já não dava tempo de escapulir e Conhecimento Científico, de olhos arregalados, coração disparado, sorri. Estenderam-se as mãos.
Conhecimento Científico descobriu, então, que era branco, alvo como a alvura das folhas de papel que lia sem parar. E que Senso Comum era preto, do preto da tinta das letras. E então comentou:
“Você tem a cor do pensamento.”
Eu, a cor do pensamento? Gargalharam, os dois. Começara ali uma aproximação.
Volta e meia, Senso Comum e Conhecimento Científico, se encontravam, sempre às escondidas. Cada dia se descobrindo, vendo que tinham afinidades. Senso Comum enchia seu cesto de frutas, guloseimas e brinquedos para os dois se divertirem.
Conhecimento Científico jogava ali o que aprendia, às vezes, trazia um livro, outras, somente o que vinha mesmo à cabeça. Apelidaram aquele cesto de “Caixa de Pandora”, pelo que ensinou Conhecimento Científico, ela era como que um cadinho da cultura humana, pelo que ele entendeu, eles estavam fundindo, numa mesma panela um caldo infusão, uma mistura de tudo o que a humanidade aprendera consigo própria.
Hum, saboreavam: gostoso!
 Ali, sentados juntos, no Bosque da Vida, as frutas ganhavam um gosto diferente, parece que o sabor fluía, circundava o ambiente. Conhecimento Científico passou a entender que havia frutas para cada época, que a jabuticaba precisa da chuva, não muita ... Que sal na manga verde fica uma delícia, que rastro na terra é sinal de cobra por perto. A olhar para o céu e saber quando está para chover, a sentir que um perigo se aproxima...
Engraçado que sabia agora muito mais do que antes, mas não lera aquilo em nenhum lugar e nem poderia escrever tudo aquilo, era coisa demais para escrever. Não caberia em nenhum papel, por mais longo que fosse o livro. E ainda mais engraçado é que não sentia vontade alguma de escrever, queria apenas viver enquanto podia, cada momento, cada relance, cada movimento.
E foi num movimento que Senso Comum se aproximou dele como nunca antes fizera. Estava agora deitados, os dois, como nunca estiveram antes.
O mundo explodiu em cores, raios partiram. O planeta deu voltas, quantos livros poderiam ser escritos apenas sobre um facho de um segundo daquele momento.
Descobriram, Conhecimento Científico e Senso Comum, que eram hermafroditas. Um podia  penetrar o outro, a amor perfeito se fizera.
Ambos conheciam agora os seus mundos ocultos. Frutos híbridos no porvir. Maravilhas nunca dantes imaginadas prestes a brotar no seio de cada um deles, semeando-se um ao outro. Macho e fêmea, os dois, amantes para sempre, destemidos, inoculados pela força e a delicadeza do outro...
Foi, então, que Dona Metodologia acordou – dormira demais! Mais uma vez, Conhecimento Científico saíra. Iria tomar providências imediatas, não estava gostando nada daquilo!
Ninguém podia saber, mas ela, Metodologia Científica, a dona, a própria, de vez em quando, procurava um guru, um líder espiritual. Chamavam-no “Intuição”. Foi até sua casa e lá descobriu: sim, Conhecimento Científico e Senso Comum estavam juntos, no Bosque da Vida!
“Isso não vai ficar assim”, decidiu. Mas o que fazer? Como agir para separar novamente os dois?
Essa é uma história aberta, todos podem contribuir com a nossa Caixa de Pandora. Da sua atitude vai depender como a nossa história irá terminar. Não vamos deixar Dona Metodologia Científica decidir sozinha o final!
Visitem o meu blog, coloquem lá a sua sugestão. Do jeito que querem que o final aconteça. Vamos juntos escrever essa história do encontro inusitado do Senso Comum e do Conhecimento Científico, no Bosque da Vida.  
E aguardar as cenas dos próximos capítulos em Portfólio III, no ano que vem.

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