quinta-feira, 5 de maio de 2011

Contribuições da Antropologia para Pensar e Fazer Saúde


PPGICS - Turma 2011 Fundamentos Teóricos da Informação e Comunicação em Saúde - 1º semestre 2011
Professores: Regina Maria Marteleto / Inesita Soares de Araújo / Valdir de Castro Oliveira
Aluno: César Augusto Luz
Fichamento 1 - 14 de abril de 2011
Contribuições da Antropologia para Pensar e Fazer Saúde
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Contribuições da antropologia para pensar e fazer saúde. In: CAMPOS, Gastão Wagner de Sousa et al. (Orgs.). Tratado de saúde coletiva. 2. ed. São Paulo: HUCITEC; Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2009. p. 189-218.
Resumo: A autora discute as contribuições da antropologia para os estudos da saúde no Brasil e as dificuldades recíprocas que marcam essa aproximação. Apresenta a  produção acadêmica brasileira contextualizada no espaço internacional, as suas principais contribuições e questões diante do panorama atual, propondo, ainda, uma classificação para a produção acadêmica brasileira.

A autora parte de duas indagações para percorrer um caminho entre as principais contribuições da antropologia clássica para a construção das categorias saúde-doença.

              Como fazer para que as disciplinas clínicas que lidam com pessoas doentes, pretendendo achar soluções para as causas de seu sofrimento físico, integrem o fato de a essência da pessoa humana ir muito além do seu corpo biológico – sendo ela um ser que pensa, imagina, simboliza, vive de afetos e de fantasmas quanto de alimentos materiais? Como fazer com que aqueles especialistas cuja atuação se dirige aos indivíduos – seja para curá-los, seja para educá-los – admitam o fato de cada pessoa ser inserida em redes, estruturas, formas de pensamento coletivas que até certo ponto marcam e orientam e orientam o seu pensamento?
- RAYNAUT, 2002, P. 43.

O seu percurso parte do início da antropologia clássica, no final do século XIX. Por meio de autores como Radclife-Brown, Lévi-Strauss e Marcel Mauss,  nos conduz pelos caminhos das pesquisas antropológicas que tanto estabeleceram as bases um potencial universal do ser humano para produzir e refletir sobre sua realidade quanto situaram a compreensão dos fenômenos culturais. As operações mentais que geram o pensamento mítico, nessa história da antropologia clássica, não são menos complexas do que aquelas que engendram o pensamento científico, segundo Lévi-Strauss.
A seguir, a autora relaciona cinco grandes contribuições da antropologia clássica para pensarmos saúde/doença:
1.       A antropologia contribui para relativizar conceitos biomédicos
2.       A antropologia contribui para desvendar a estrutura dos mecanismos terapêuticos
3.       A antropologia contribui para mostrar relações entre saúde/doença e realidade social
4.       A antropologia contribui para a contextualização dos sujeitos
5.       A antropologia contribui com forma de abordagem dos processos de saúde/doença
A meu ver, um dos mais profícuos conceitos apresentados diz respeito a como, numa abordagem concreta,  a intersubjetividade deve ser tomada como elemento central na relação entre o  profissional de saúde e o paciente. Somente essa visão é capaz de dar conta do desafio de abarcar o universo social, cultural e simbólico que cerca a relação saúde/doença, numa relação influência recíproca entre os seus dois universos.
Uma outra discussão abordada pela autora diz respeito às dificuldades da relação entre a antropologia e a área da saúde, num contexto de fortalecimento de uma visão “biomédica” hegemônica que nega a questão social. Um projeto utópico da saúde perfeita, segundo Lucien Sfez (1997), resulta numa redefinição da saúde pública como “a soma das saúdes individuais perfeitamente equilibradas pelo poder tecnológico”, conforme nos expõe a autora.
Na sua busca de compreender como a dificuldade dessa relação da antropologia com a área da saúde chega até ao núcleo da produção dos próprios antropólogos, questão sintetizada numa segunda a crucial pergunta do mesmo autor citado por Cecília Minayo.
Como conseguir que as ciências psicológicas e sociais admitam que o ser humano não é constituído somente de um espírito, mas também de um corpo. Como conseguir que elas admitam que também as sociedades humanas não podem ser analisadas apenas em sua dimensão cultural, levando unicamente em conta suas representações, seus modelos de comportamento, o modo cmo elas organizam as relações entre seus membros? Como conseguir que as ciências humanas integrem essa evidência de que os sistemas sociais só existem porque se arraigam em uma realidade biológica: a dos corpos e a dos membros? (Raynaut, 2002, pp.43-4).
Essa dicotomia será resolvida numa aproximação “colaborativa” entre as duas matrizes de pensamento, a partir do entendimento de que a área da saúde é campo “pluridisciplinar” , em que sempre serão possíveis relações entre o paradigma médico e a antropologia.
Por fim, a autora situa a antropologia da saúde no Brasil contexto internacional, diferenciando-a historicamente da “antropologia médica”, que vem da tradição de pesquisa anglo-saxônica. Um pouco mais adiante, é de se notar que a autora aponta uma convergência entre a produção europeia e a norte-americana na antropologia da saúde, esta última marcada, na sua trajetória, por uma vertente mais funcionalista, em diferenciação aos autores clássicos com os quais abre o seu artigo.
Após uma breve análise das características mais marcantes da produção latino-americana – que se inicia na década de 1920 do século passado -, Minayo nos mostra como que os desafios epidemiológicos, demográficos situados na implementação dos marcos do sanitarismo brasileiro estão contribuindo para acelerar a marcha da produção antropológica da saúde no Brasil, distinguindo as suas principais contribuições no cenário recente em que a Estratégia Saúde da Família bem pode consubstanciar o esforço – lento, como aponta – dos gestores públicos em responder aos enormes desafios colocados.
A diversidade da produção da antropologia da saúde no Brasil será classificada por ela em quatro nichos ou movimentos, em permanente interação: antropologia stricto sensu, pesquisa estratégica, abordagens interdisciplinares e os estudos qualitativos, realizados por profissionais que não são antropólogos.
Todos eles expressivos e numa dinâmica muito intensa, configurando um conjunto de contribuições que a autora classifica como “dinâmica e florescente”. Esse encontro do paradigma biomédico e da antropologia, nos mostra a autora, amplia as bases conceituais da práxis da saúde e, ao incluir a antropologia como um de seus elementos constitutivos, as ciências da saúde não se tornam menos científicas, mas, ao contrário, “aproximam-se com maior abrangência e profundidade dos contornos reais dos fenômenos que abarcam.”


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